Mensagem

“Eu não vejo o fado só como um estilo musical. Para mim, implica uma atitude, uma forma de estar na vida, um universo cultural. Há muitas coisas ligadas ao mundo do fado. Claro, uma delas é, de facto, a música: a canção que se canta, a poesia que se escreve, a melodia que se cria. Mas o fado não é só uma expressão musical e é isso que lhe traz toda a magia. Não é fácil explicar.”

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Time Out Lisboa | Critíca | Que Fado É Este que trago

Que Fado É Este que Trago? HM/Farol
http://www.timeout.pt/news.asp?id_news=2818

Manager, agente, editor, Helder Moutinho é, acima e antes disso tudo, um grande fadista, dos maiores que o fado nos deu na última década. De voz contida, grave, por vezes a fazer lembrar crooners como os americanos Bing Crosby, Frank Sinatra ou Johnny Hartman...
Mas Helder Moutinho também merece destaque e atenção como autor de excelência, compositor de músicas e, mais ainda, um poeta que escreve para a sua própria voz – neste novo álbum, Que Fado É Este que Trago?, oito dos 15 temas têm letra da sua autoria – e para a voz de muitos outros e outras fadistas.

Como se isto tudo não bastasse, Moutinho é ainda um estudioso e um pensador do fado, do fado antigo e dos fados que se poderão fazer no futuro, não sendo portanto de espantar que este seu terceiro álbum, que quebra um silêncio editorial de quatro anos (o registo anterior, saído em 2004, é o celebrado Luz de Lisboa), seja uma reflexão inteligente sobre a essência do fado e quais os caminhos que percorreu e irá percorrer. E uma reflexão que não se limita à teoria, mas que apresenta exemplos práticos – e musical e liricamente extraordinários, muitos deles – de como se pode renovar o fado tradicional (exemplos: “Perdi-me nos Olhos Teus”, em que Helder Moutinho encaixa na perfeição um poema seu no Fado Mouraria, e “A Cor dos Olhos”, em que a utilização de acordeão e percussões faz o fado conviver naturalmente com o fandango), de como a ponte entre o fado tradicional e muito do novo fado foi feito através do fado-canção (o belíssimo “Esta Voz”, com letra de Moutinho e música do guitarrista Ricardo Parreira, que parece uma homenagem a Carlos do Carmo e à poesia de Ary dos Santos), ou como pode haver boa pop – pop mesmo! – no fado (“À Espera de uma Paixão”, novamente com letra de Moutinho e com música de Yami).

António Pires

segunda-feira, 29 de Dezembro de 2008